Comportamento

Número de suicídios mantém alta e preocupa em Pelotas

Rio Grande do Sul lidera o ranking de casos no Brasil; dados de 2020 revelam que a média é de quase quatro ocorrências por dia, totalizando 1.419

Carlos Queiroz -

O mês dedicado ao Setembro Amarelo de prevenção ao suicídio está chegando ao fim, mas sempre é tempo de se falar no assunto. O Rio Grande do Sul lidera o ranking de casos no Brasil. Em 2020, ano mais recente com os dados já fechados no Estado, a média é de quase quatro ocorrências por dia, totalizando 1.419. No mesmo ano, Pelotas registrou 37 e segue numa linha crescente. Pelos dados da Polícia Civil, até a última sexta-feira, foram 35 em 2022. Com o sinal de alerta ligado e um mês dedicado ao tema, várias atividades foram desenvolvidas na área da saúde e da educação. Uma delas será nesta segunda-feira (26), às 14h30min, na ONG Casa Vida. A palestra com a psicóloga Angelita Souza abordará o tema com os usuários (pessoas em tratamento de câncer ou outras doenças graves e familiares) que, por estarem em situação fragilizada, poderão esclarecer dúvidas sobre sintomas, comportamento depressivo e também meios de valorizar a vida.

A assistente social da Casa, Fabiana Neitzel, considera importante debater o assunto com os abrigados que além de estarem com a saúde debilitada, passam por dificuldades financeiras e de acesso à saúde, o que pode comprometer a saúde mental. "Precisamos falar sobre suicídio como forma de alerta", ressaltou. A psicóloga Angelita, que também atende pacientes no Hospital Espírita de Pelotas, e uma vez por semana, conversa com os cadastrados da Casa Vida, acredita que o suicídio deveria ser falado sempre e ser tratado como questão de saúde pública. Para a especialista, os países da América Latina apresentam crescimento nos casos. "Por isso precisamos aproveitar os espaços para colocar o assunto em evidência, como no caso da ONG. Mas é preciso que se fale em espaços de saúde, de abrigos e em escolas. É difícil, por ser um tabu, para quem fala e para quem escuta, mas precisamos falar mais abertamente".

Uma das pessoas acolhidas pela ONG é de Bagé e está com a mãe internada após cirurgia, devido a um aneurisma. O jovem, que prefere não se identificar, conta que foi preciso buscar forças para lutar e conseguir um atendimento digno, que demandou uma transferência para Pelotas. "Na primeira noite, eu e meu irmão dormimos no carro até nos indicarem a Casa Vida. Aqui encontrei pessoas com quem pude compartilhar minhas angústias, além de me sentir acolhido", disse. O jovem vem de um histórico de depressão, vencido após se descobrir na fé de sua religião e hoje lidera um grupo de apoio a adolescentes usuários de drogas. Por essa trajetória valoriza sempre o diálogo e o compartilhamento como formas de ajuda e valorização à vida. "Acredito que a juventude de hoje seja inteligente, porém complicada, sem foco, até por ser um geração que recebe praticamente tudo pronto, sem passar pelas dificuldades que nossos pais passaram e, por isso, são pessoas fortes. Então toda a ação de alerta é válida."

Vamos falar sobre isso?

Em Pelotas, as ações se concentraram na Rede de Atenção Psicossocial (Raps), através de seus Centros. Na sexta-feira, foi a vez do Caps Escola que teve a sede toda decorada com as cores do mês. Nesses encontros, os participantes receberam material informativo sobre o que é o Setembro Amarelo e formas de como ajudar. Entre elas, mostrar que se importa com a pessoa; não menosprezar os sentimentos dela, pelo contrário, tentar explicar que a depressão é uma doença e, por fim, encorajá-la a buscar apoio profissional. A intenção é reduzir os índices de suicídios, que tiveram alta de 27% entre 2020 e 2021. Já as lesões autoprovocadas (tentativa de suicídio) apresentaram queda de 13% este ano, em relação ao período de janeiro a agosto do ano passado (veja a seguir).

Já a Secretaria Estadual de Saúde foi além. Os altos índices de suicídio levaram o governo a elaborar ações: a promoção à vida e a prevenção do suicídio são políticas públicas desde 2019. Como estratégia de operacionalização, foi elaborado um plano, com ações necessárias a serem desenvolvidas no Estado e nos municípios. Os objetivos são promover a vida e prevenir o comportamento suicida, qualificar a vigilância das mortes por suicídio e do comportamento suicida, qualificar a informação e a comunicação sobre o fenômeno e sua disseminação e qualificar a gestão e o cuidado em todos os níveis de atenção. Embora o empenho, a Secretaria não disponibiliza dados atualizados e deverá fechar o número de suicídios de 2021 só no início do ano que vem, conforme informou a assessoria de comunicação.

A questão em números 

Suicídios em Pelotas (*)

2019: 37 até 23 de setembro - 47 até o final do ano
2020: 27 até 23 de setembro - 37 até o final do ano
2021 - 29 até 23 de setembro - 47 até o final do ano
2022 - 35 até 23 de setembro
(*) Fonte: Polícia Civil

Lesões autoprovocadas

2021: 184 de janeiro a agosto
2022: 162 de janeiro a agosto

Suicídios no Rio Grande do Sul

2012: 1.180
2013: 1.142
2014: 1.112
2015: 1.141
2016: 1.168
2017: 1.319
2018: 1.241
2019: 1.425
2020: 1.419
(*) Secretaria Estadual da Saúde só tem dados fechados até 2020

Onde buscar ajuda em Pelotas
Caps AD: 3222-3358
Caps Fragata: 3281-1081
Caps Escola: 32229-2923
Caps Zona Norte: 3273-6301
Caps Infantil: 3222-6260
Caps Porto: 3278-2068
Caps Castelo: 3227-6465
Caps Baronesa: avenida Domingos de Almeida, 1.381
Centro de Valorização à Vida (CVV): 188

Em plantão 24 horas
Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu): 192
Bombeiros: 193

 

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